Um dos meus maiores medos é perder a memória. Se eu me esquecer dos sonhos realizados e decepções, aprendizados e planos, dos amigos e familiares, continuo sendo eu?
Acredito vir desse temor minha obsessão por documentar a vida. Amo tirar fotos até das coisas mais triviais, colecionar bugigangas de momentos especiais, coletar frases, poesias e trechos de livro que conversam comigo. Mas me incomoda muito que até hoje não tenha conseguido desenvolver um sistema definitivo para catalogar todas essas lembranças.
Do Orkut ao Instagram, por muito tempo recorri às redes sociais para a organização de fotos. Além da possibilidade de publicá-las em ordem cronológica e adicionar descrições textuais, uma parte legal dessa experiência era poder compartilhar parte da minha vida com pessoas queridas que estão distantes. Entretanto, a forma que eu e todo o resto do mundo tem utilizado as redes nos últimos tempos mudou bastante.
Sinto que não há mais muita troca, às vezes parece que falo para as paredes e isso aumenta meu sentimento de solidão. Além disso, o alinhamento político dessas empresas com a extrema direita faz com que estes não sejam mais espaços em que eu queira estar e compartilhar minhas informações. Assim, tenho buscado outras formas - formas analógicas - para acomodar minhas fotografias, e resolvi dar uma segunda chance para o scrapbook.
Scrapbook é um caderno ou álbum em que você pode colar fotos, recortes, efêmeras (impressos destinados ao descarte, como ingressos e passagens), entre outros, e escrever textos sobre os acontecimentos (1, 2). O formato é bem flexível, podendo variar de um caderno simples com apenas fotos e legendas a álbuns ricamente decorados com colagens e layouts intricados.



A primeira vez que tentei documentar memórias em um scrapbook foi por volta de 2017. Alguns anos antes havia feito um intercâmbio para o Reino Unido que me transformou profundamente. Foi uma das melhores e mais desafiadoras experiências da minha vida; são lembranças muito caras que só de pensar em perdê-las me dá desespero. Então nada mais lógico que eternizá-las nesse projeto.
Inspirada pelos belíssimos designs que via no Pinterest, comprei um caderno de folhas grossas e selecionei várias fotos para imprimir em uma gráfica perto de casa. As primeiras páginas ficaram muito legais, mas ao longo do tempo minha criatividade minguou, enquanto a autocobrança por criar algo perfeito cresceu. O projeto foi deixando de ser divertido e ficou muito frustrante, porque a execução saía diferente do que eu tinha imaginado e isso para mim era inaceitável. Então o abandonei.



Hoje, muitas sessões de terapia depois e mais madura criativamente, resolvi recomeçar o scrapbook com expectativas mais realistas, e tem ido bem! Minha maior preocupação não é a estética, mas conseguir documentar acuradamente e com o máximo de detalhes acontecimentos de 12 anos atrás. Pensei que poderia ter alguns gatilhos durante o processo, mas surpreendentemente o hobby tem trazido apenas um sentimento bom de nostalgia. Interessante ver como ressignifiquei muita coisa nesse período.
Dessa vez escolhi um álbum de scrapbook que eu mesma fiz para uma coleção da minha finada papelaria, e imprimo as fotos e mapas na minha impressora doméstica (abaixo você encontra mais detalhes). Para a decoração tenho utilizado apenas materiais que já possuo: retalhos e recortes de papel, washi tapes, envelopes e adesivos.
Embora eu não seja contra adquirir insumos para a atividade, acredito que ela possa ser feita sem grandes investimentos. Ao longo de vários projetos a gente acumula muitos restinhos (scraps) de materiais, que combinados podem resultar em criações muito bonitas e autênticas, e o scrapbook é o lugar perfeito para elas. Quanto à inspiração para os layouts, faço pesquisas principalmente no Pinterest.

Materiais básicos para iniciantes
Álbum para scrapbook ou caderno de folhas grossas (precisam suportar colagens);
Fotos impressas, mapas, efêmeras, e o que mais você quiser/puder colar;
Tesoura;
Cola;
Canetas.
Impressão de fotos na impressora doméstica
Minha máquina é uma Epson L3250 jato de tinta com 4 tanques;
Para as fotos utilizo o papel fotográfico glossy da Spyral para impressora jato de tinta, linha premium. Para demais impressões, uso papel Opaline para inkjet da mesma marca.
Atenção às configurações da impressora! Antes de imprimir seleciono a opção de papel mais adequada, e defino a qualidade de impressão para alta.
Mais algumas considerações
Antes de adquirir seu álbum em alguma grande rede de papelaria ou mesmo na shopee ou na amazon, considere a possibilidade de apoiar o trabalho de alguma artesã ou artesão. Uma busca rápida por “encadernação artesanal” no instagram vai revelar o cuidadoso trabalho de muitos ateliês pequenos.
Scrapbooking pode ser uma boa opção de hobby para quem busca unir amigos e/ou familiares (incluindo as crianças!) em uma atividade livre de telas.
Por hoje é só, pessoal! Obrigada pela oportunidade de compartilhar esse hobby com vocês. Lembrando que seus comentários sobre o assunto são bem-vindos, você pode responder ao e-mail ou comentar pelo app do Substack.
Referências Bibliográficas
Scrapbook. Cambridge Dictionary. Último acesso em 02/05/2025.
LUDENS, R. What Is Scrapbooking? Blog The Spruce Crafts, 2019. Último acesso em 02/05/2025.
Bacana demais, e bacana que muitas vezes a gente acha que precisa de um talento manual sobrenatural e às vezes é só ter o material certo, né? Foi assim quando resolvi fazer jogos de tabuleiro (tem uns bacanas disponibilizados gratuitamente ou que você paga pelos pdfs e faz em casa), fiquei bem feliz em fazer. E atividade manual dá uma paz, né?
Nunca me dei bem com scrapbooks e derivados porque, assim como tu, eu acabava não conseguindo fazer como eu queria e me frustrava, e então desistia.
Mas faz um tempo que tô querendo montar uns álbuns de fotos, e a segunda imagem que tu postou dos exemplos de scrapbook parece uma mistura dos dois. Gostei muito da simplicidade dele e acho que vou tentar!
Obrigada pela dica. s2